"Cansado às vezes
do artificialismo que domina hoje em todos os géneros, enfadado com os
chistes, os lances espirituosos, com as troças e com todo esse espírito
que se quer colocar nas menores coisas, digo comigo mesmo: se eu pudesse
encontrar um homem que não fosse espirituoso, com quem não fosse
preciso sê-lo, um homem ingénuo e modesto, que falasse somente para se
fazer entender e para exprimir os sentimentos do seu coração, um homem
que só tivesse a razão e um pouco de naturalidade: com que ardor eu
correria para descansar na sua conversa ao invés do jargão e dos
epigramas do resto dos homens! Como é que acontece perder-se o gosto
pela simplicidade a ponto de não mais se perceber que ele foi perdido?
Não há virtudes nem prazeres que dela não retirem encantos e as suas
graças mais tocantes. Existe alguma coisa de grande ou de amável quando
dela a gente se afasta? Do momento que ela não é reconhecida, não é
falsa a grandeza, o espírito desprezível, a razão enganadora e todos os
defeitos mais hediondos?
"
Luc de Clapiers Vauvenargues, in 'Das Leis do Espírito'
Luc de Clapiers Vauvenargues, in 'Das Leis do Espírito'
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